segunda-feira, 9 de junho de 2008

Música

A novidade (Herbert Viana, Bi Ribeiro, João Barone e Gilberto Gil)

A novidade veio dar à praia, na qualidade rara de sereia
Metade o busto de uma deusa Maia, metade um grande rabo de baleia
A novidade era o máximo, do paradoxo estendido na areia
Alguns a desejar seus beijos de deusa
Outros a desejar seu rabo pra ceia
Ó mundo tão desigual, tudo é tão desigual, ô ô ô ô ô
De um lado este carnaval, de outro a fome total, ô ô ô ô ô
E a novidade que seria um sonho, o milagre risonho da sereia
Virava um pesadelo tão medonho, ali naquela praia, ali na areia
A novidade era a guerra entre o feliz poeta e o esfomeado
Estraçalhando uma sereia bonita, despedaçando o sonho pra cada lado

Desafios culturais do mundo atual

"O transporte rápido, as telecomunicaçoes instantâneas e a padronizaçao crescente dos utensílios e dos artefatos conduzem à uniformização do planeta: em toda parte os mesmos entroncamentos rodoviários, a mesma música; em toda parte jovens modelados nos mesmos jeans!
Muitos pensavam que a desaparição da maior parte dos traços que promoviam a infinita variedade do mundo tradicional pressagiava a erosão das diferenças culturais. O que se descobre? Sociedades onde os problemas de identidade são mais envolventes do que nunca. É este paradoxo que é necessário compreender para vencer os desafios que nossas sociedades devem revelar no dominio da cultura."
Paul Claval

Desafios culturais do mundo atual

domingo, 8 de junho de 2008

Falando sobre a geografia

Ao longo da história a natureza foi sendo transformada pelo trabalho do homem, que passou a produzir um espaço com o objetivo de garantir sua subsistência. Esse processo de humanização tornou a natureza cada vez mais artificializada, graças ao desenvolvimento de técnicas. Expandiram-se as áreas agrícolas, desenvolveram-se as cidades, construíram-se estradas, enfim, cada vez mais novas técnicas forma sendo incorporadas ao espaço geográfico, transformando-o. Poucos lugares da superfície terrestre ainda não sofreram transformações. Porém, mesmo esses lugares, como no interior da Floresta Amazônica ou nas calotas polares, o território está diminuindo, existe ingerência política, estão sujeitos a acordos internacionais e neles atuam interesses ligados aos que buscam sua preservação e aos que desejam explorá-los de forma predatória. Ou seja, mesmo em um maio natural, aparentemente intocado, existem muitas relações políticas, econômicas, culturais e ambientais que são visíveis na paisagem.

Assim, a paisagem é somente a aparência da realidade, aquilo que nossa percepção capta. Embora as paisagens estejam impregnadas das relações sociais, econômicas e políticas travadas entre os homens, essas relações não são facilmente percebidas por todas as pessoas, sendo necessário desvenda-las para que o espaço geográfico possa ser apreendido em sua essência. Isso requer estudos, pesquisas.

Desde a Antiguidade muitos autores elaboraram estudos que podem ser considerados geográficos, embora o conhecimento fosse disperso, desarticulado, vinculado à filosofia, à matemática e às ciências da natureza. Na Grécia Antiga, Heródoto, Hipocrates e Aristóteles, entre outros, analisaram a dinâmica dos fenômenos naturais, elaboraram descrições de paisagens e estudaram a relação homem-natureza. Na Idade Media, Cláudio Ptolomeu fez importantes estudos geográficos e cartográficos registrados em sua obra Síntese Geográfica. A expansão marítima européia também proporcionou grandes avanços aos estudos geográficos.

No entanto, somente em meados do século XIX, dois pesquisadores alemães – Alexander von Humboldt (1769-1859) e Karl Ritter (1779-1859) – fundaram a geografia como ciência, ou seja, uma área do conhecimento que passou a ser pesquisada e ensinada nas universidades, com a gradativa sistematização de seu arcabouço teórico-metodológico.

No final do século XIX, outro importante pesquisador alemão - Friedrich Ratzel (1844-1904) – definiu a geografia como ciência humana, embora na prática a tenha tratado como ciência natural. Considerou a influência que as condições naturais exercem sobre a humanidade como objeto de estudo da disciplina, dando origem ao “determinismo geográfico”, influenciado pelas teorias de Lamarck e de Darwin.

No início do século XX, um geógrafo francês – Paul Vidal de La Blache (1845-1918) – passou a criticas o método puramente descritivo e a defender que a geografia se preocupasse com a relação sociedade-natureza, posicionando os seres humanos como agentes que sofrem influência do meio, mas também agem sobre ele, transformando-o. Inaugurava, em contraposição ao “determinismo geográfico”, uma corrente conhecida como “possibilismo”, ambas posteriormente rotuladas como “geografia tradicional”.

Assim, até meados do século XX a grande maioria dos geógrafos se limitava a descrever as características físicas, humanas e econômicas das diversas formações socioespaciais, procurando estabelecer comparações e diferenciações entre elas. Embora tenha tido um importante desenvolvimento da geografia como ciência, a geografia tradicional nos legou um ensino escolar centrado na memorização de mapas e dados estatísticos sobre população e economia, juntamente com as características físicas de clima, relevo, vegetação e hidrografia. Essa estrutura perdurou até a segunda metade do século XX, quando a descrição das paisagens, com seus fenômenos naturais e sociais, passou a ser realizada de forma mais eficiente e atraente pela televisão, e os geógrafos se viram obrigados a buscar novos objetos de estudo que permitissem à geografia sobreviver como disciplina escolar no ensino básico e como ramificação das ciências humanas em nível universitário.

Nesse período o processo de mudança do objeto de pesquisa da disciplina teve seu marco principal na década de 1970, quando a geografia passou por um efervescente processo de renovação em suas bases teóricas e nos seus métodos de análise. Esse processo transformador teve como um dos pioneiros o geógrafo Yves Lacoste. Em 1976 ele publicou A geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, livro que viria a balançar as estruturas da geografia tradicional. Criticava seu conteúdo ideológico a serviço dos interesses dominantes – político e econômico – e apontava caminhos para a renovação crítica. No Brasil um dos pioneiros nesse processo foi o geógrafo Milton Santos, em seu livro Por uma geografia nova, publicado em 1978.

Enquanto na França e no Brasil a renovação teve forte influencia do pensamento de esquerda, sobretudo do marxismo, nos Estados Unidos a contraposição à corrente tradicional foi a geografia quantitativa ou pragmática, que criticava a falta de pragmatismo, o atraso tecnológico da geografia tradicional e passou a utilizar sistemas matemáticos e computacionais para interpretar o espaço geográfico. Essa corrente tecnicista e utilitarista da renovação, que mascarava os conflitos e as contradições sociais denunciados pelos geógrafos críticos, era uma perspectiva conservadora, a serviço do status quo.

O fim do socialismo rela contribuiu para reduzir a influência do marxismo nas ciências humanas, o que abriu caminho para a difusão de outras correntes teórico-metodológicas na geografia crítica, como a fenomenologia e o existencialismo, ao mesmo tempo que as correntes críticas passaram a valorizar as novas tecnologias – computadores, satélites etc. – na interpretação do espaço geográfico.

Atualmente, depois de três décadas de renovação e com o avanço da globalização, o crescimento de problemas como conflitos técnicos, a questão ambiental, os movimentos terroristas, as crises financeiras etc., consolida-se a certeza de que a geografia é uma disciplina fundamental para a compreensão do mundo contemporâneo nas escalas local, nacional e mundial.

Texto extraído do livro Geografia – ensino médio, volume único; de: João Carlos Moreira e Eustáquio de Sene. Editora Scipione, 2008.

MOREIRA, João Carlos e SENE, Eustáquio de. Geografia –

ensino médio. Volume único, Editora Scipione, 2008.